quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Caio F. e descontentamentos

"[...]você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as pessoas pensem nossa, como é que ele foi parar em Sri Lanka, que cara louco esse, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? uma certa saudade: em Sri Lanka, brincando de Rimbaud, que nem foi tão longe, para que todos lamentem ai como ele era bonzinho e nós não lhe demos a dose suficiente de atenção para que ficasse aqui entre nós, palmeiras e abacaxis.
Que foi que aconteceu, que foi meu Deus que aconteceu, eu pensava depois acendendo um cigarro no outro, e não queria lembar, mas não me saía da cabeça[...]"

"Feito febre, baixava às vezes nele aquela sensação de que nada daria jamais certo, que todos os esforços seriam para sempre inúteis, e coisa nenhuma de alguma forma se modificaria. Mais que a sensação, densa certeza viscosa impedindo qualquer movimento em direção à luz. Além da certeza, premonição de um futuro onde não haveria o menor esboço de uma espécie qualquer não sabia se de esperança, fé, alegria, mas certamente qualquer coisa assim.
Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse, gestos cotidianos, acordar, comer, caminhar, dentro dele uma coisa permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos, olhos fixos na distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. Não era verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que estava também dentro do que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha - vaga e precisamente de: A Grande Falta.
Era translúcida e gelada. Tivesse olhos, seriam certamente verdes, com remotas pupilas."

"Ah: fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele."

"- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu."

Pessoas indecisas, complicadas e inconvenientes. Será que vocês não pensam ou são apenas egoístas? E onde está minha moral de falar uma coisa dessas? Tu não sabe de nada, mas eu sei. E fico vendo o que tu faz, não é nada tão grave, tem gente que me deixa mais transtornada. Mas tem certas pessoas que são especiais, que mesmo fazendo pouco conseguem me deixar abalada. Dizer que essas pessoas são especiais não significa que eu não goste delas, mas sim que elas são tão importantes ao ponto de me irritar profundamente e me fazer gritar no silêncio do meu quarto. E não faz mais sentido dizer “e essas pessoas não têm nem ideia do efeito que fazem” porque têm sim, e ouso dizer que é proposital. Pensando assim, parece que isso é muito importante na minha vida, mas não é pra tanto. Aliás, não consigo decidir o nível de importância que esses detalhes têm, mas creio que, principalmente agora, não muito. Ou, principalmente agora, mais que o normal.


Outra coisa que eu venho desprezando muito ultimamente é amizade por interesse. Que coisa baixa. Que coisa falsa. Eu odeio falsidade. Eu não vou me prolongar no assunto, as pessoas tendem a achar que tudo que é escrito em qualquer lugar é pra elas.
Mas não é.
Right?

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