sexta-feira, 4 de março de 2011

Noite

Acendi um cigarro. Não foi o primeiro e não ia ser o último da noite. Como eu já havia dito lá pelo terceiro "a noite nem começou ainda". Aquele foi um dia que me arrependi de não ter comprado um maço só pra mim. Preciso fumar quando tenho sentimentos em excesso. Raiva, tristeza, alegria, tensão...Já estava cansada de pedir cigarros aos meus amigos e não aguentava mais sentir o cheiro daquele mentolado, acabei pegando outro, mais forte. Esse era, mais uma vez, por raiva. Fazia horas que eu estava irritada, mas muito irritada. Estava tentando manter a calma, tentando participar de uma conversa. Ainda estava sóbria, a irritação me deixava assim. Parecia que nada ia me fazer ficar calma e esquecer o que tinha acontecido. Mas vi aqueles olhos claros se aproximando de mim. Cheiro e gosto. Mas não, não adiantou. Era preciso muito mais do que isso. Os olhos tiveram que chorar um pouco. E algum tempo depois, o cigarro em minha mão marcava alegria e ansiedade. Talvez um pouco de medo, e muita tensão. Mas não durou muito tempo, aqueles olhos claros são indecisos demais, e me vi virando um copo contra a raiva mais uma vez. Foi a noite mais longa da minha vida, minutos pareciam horas e eu olhava para o relégio a cada segundo esperando que já fosse a hora de eu ir pra casa. Mas depois de um tempo, os olhos indecisos voltaram a atacar, mas dessa vez não teria mais volta, eu ia passar o resto da noite (do dia, da semana, do mês) fumando um cigarro tenso e feliz. O brilho deles podia desviar dos meus, mas logo retornavam me fazendo feliz mais um pouco. O sol chegou finalmente, me traindo, àquela altura eu já não queria mais ir embora, queria que aqueles momentos durassem pra sempre. Todos já estavam dormindo e eu me vi fumando outro cigarro e entornando uma garrafa de vodka pela manhã. Alguém me acompanhou, fisicamente, porque meu cérebro não era capaz de ser acompanhado naquele momento, mal ele conseguia se acompanhar. Já não sabia mais o que estava acontecendo, não sabia mais o que pensar e não sabia mais o que era real.
Aqueles olhos me olharam mais uma vez e pareciam arrependidos de algumas ações, mas ainda assim, não mentiam, tudo era real, e cada palavra dita foi verdade.

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