sexta-feira, 18 de março de 2011

Meio do fim

Trezentos e sessenta e seis dias depois e ela estava caminhando apressada para chegar logo no lugar do show. Mas seus passos foram ficando cada vez mais lentos e tristes...cada lugar que ela olhava, aquelas decorações festivas a perseguiam. O frio estava pior que o normal e parecia aumentar a medida que andava mais devagar. Como se seus pés a guiassem sem a ajuda do seu cérebro, foi reto em uma rua. Ao virar a esquina percebeu que só havia estado uma vez lá, há trezentos e sessenta e seis dias. Ao chegar ao final da rua, sentiu flocos de neve no seu nariz e uma lágrima solitária querendo fugir. Lembrou do real motivo de estar caminhando e tentou esquecer do resto. A noite ia caindo e percebeu que se não chegasse logo no bar, viraria boneco de neve. Sem ver mais nada fora do normal, conseguiu chegar ao lugar. Entrou e ficou agradecida pelo ambiente estar bem quente, mas desejou poder ir embora quando notou a quantidade de pessoas que havia lá. Foi até o bar e até pensou em pedir um chocolate quente, mas decidiu que um whisky a deixaria melhor, naquele momento. Feito isso, notou que já era hora de procurar por ele. Encontrou. Um abraço, um beijo no rosto, "como você está?", "bem frio, não? Veio andando? Vamos beber algo pra esquentar...". Estava quieta bebendo outro whisky ao lado dele, que parecia encomodado pelo desconforto de ambos. Ao olharem para o palco, aquele mesmo rapaz subiu com seu violão. Ela fechou os olhos, puxando uma concentração do fundo da sua mente. "Será que ainda está nevando? Lembra daquela vez que nós dois..." e um primeiro acorde fez ele parar a frase na metade, para a sorte dela. Eles se aproximaram do palco e ficaram um do lado do outro, apenas observando o rapaz cantar as belas melodias de sempre. Ela apenas ouvia, segurando a mesma lágrima solitária. Aquelas canções, aquelas que diziam tudo...E ela apenas sentia a pessoa ao seu lado, longe dela. Olhou para o outro lado, tentando não focar na música ou nele; viu pessoas que fizeram parte de um passado, que presenciaram coisas que pareciam fazer parte de outra vida, que presenciaram um amor entre pessoas tão diferentes. "É fim de ano, eu sei que vai ficar tudo bem depois da virada, como sempre", dizia ela para si mesma.
Mais tarde saiu daquele lugar com uma vitória pessoal de não ter deixado uma única lágrima rolar. Ele resolveu descer a rua com ela, disse que estava muito frio e escuro para ela ir sozinha. Ela até quis reclamar, porque de nada ele adiantaria contra o frio, mas ficou em silêncio. Ele ia na frente e ela atrás, com a cabeça baixa. E então notou que os pés dele viraram na mesma rua que os dela haviam virado sem querer antes. "Estivemos aqui no ano passado, lembra?", disse ele "eu gosto dessa rua". Ela parou, em choque com as palavras inesperadas, por que ele lembrava? Caminhou mais rápido até acompanha-lho. "O que você disse?" "que estivemos aqui no ano passado..." "ah, sim...". Pelo menos, estava nevando, não era uma tarde bonita e até mesmo quente, para a estação, como fizera a trezentos e sessenta e seis dias atrás. Ela achou melhor começar a contar qualquer coisa boba, principalmente ao passarem pelo lugar onde um beijo havia sido roubado (a trezentos e sessenta e seis dias atrás), só para evitar que ele fizesse algum outro comentário; mas logo o silêncio reinou entre eles. "Bom, é aqui que eu fico", disse ele, despertando a moça de seus devaneios. "Ah, bom, tchau então." "tchau, bom te ver hoje, hein?!" Um abraço, um beijo no rosto...A neve que caia no seu bom-humor era tanta que ela já não sabia se de fato nevava na rua. Foi só quando ela recomeçou a caminhar que percebeu que estava realmente frio, mais do que qualquer outro momento daquele dia. Mas seus pensamentos eram ainda mais frios, o que a deixava bem confusa, e ela só não conseguia decidir se era bom ou ruim. 
Trezentos e sessenta e sete dias e...

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