quinta-feira, 12 de março de 2015

Sobre as estrelas e o mar

Eu atravessei toda a ilha pra chegar numa praia deserta, onde havia apenas uma casinha de um pescador, no meio do nada. Caminhei umas duas horas. Não levei uma câmera, não levei meu chapéu, não levei nada pra sentar em cima e nem nada pra comer. Pra falar a verdade, não me lembro de carregar nada nas mãos, talvez uma garrafa d'água e um protetor solar. Caminhei por uma trilha sem fim no meio do mato, mas eu já tava tão acostumada a estar a quilômetros de casa, sozinha, que eu nem me importava mais. Quando eu finalmente vi o mar, percebi o erro que foi não levar um chapéu. Sentei encostada num pequeno toco e fiquei um bom tempo olhando pra onde o céu encontrava a água. Não tinha nenhuma casa por perto, mas longe eu conseguia ver um grupo de pessoas brincando nas ondas. Fora isso, era apenas o sol na minha cabeça.
Uns vinte minutos depois uma cadela veio correndo na minha direção e se atirou no meu colo, parecia que me conhecia a vida toda e logo começou a cavar um buraco por baixo das minhas pernas pra se esconder do sol e ficar com menos calor. Desejei fazer o mesmo. Depois de um tempo coçando atrás da orelha dela, um homem muito velho veio andando até nós. Chegou dizendo que ela era uma atirada mesmo, que não vê muita gente e quando vê já se apaixona. Ele sentou do nosso lado e começou a falar, sem que eu precisasse dizer nada.
Morava lá a vida toda, era pescador e vivia dos peixes. Saía de manhã cedo no barquinho, antes do sol nascer. A cadela esperava na beira da praia. Às vezes os netos e os filhos apareciam pra passar um tempo com ele, saíam todos pra pescar em alto mar. Às vezes pescavam camarão. Ele tinha que ir de bicicleta pela beira da praia até a vila, lá do outro lado da ilha, quando precisava comprar alguma coisa. Uma vez por semana, mais ou menos, mas ele disse que era bem chato ter que ir até lá, gostava de ficar sozinho e só conversar com as pessoas que apareciam na praia de vez em quando. Era bem raro voltar pro continente. O que ele gostava mesmo era estender um pano na beira da praia nas noites estreladas do verão e dormir ali mesmo. "E os mosquitos? E ninguém aparece? Não tem bichos?". Não, era só ele, a cadela e o céu. Aí ele disse que precisava voltar pra casa e sumiram os dois no meio do mato, sem antes ela relutar de me deixar ali.
Entrei no mar e fiquei uma meia hora me perguntando como alguém poderia querer algo mais do que aquilo na vida. Aquele pescador, provavelmente, tinha a melhor vida de todo o mundo. Resolvi voltar pela beira da praia, lá pelas tantas eu percebi que foi uma ideia ainda pior do que ter esquecido o chapéu. A caminhada durou mais de duas horas e quando eu cheguei na civilização já tava escuro. Eu tive que passar por dentro de um riacho, quase caindo nos buracos enormes umas três vezes. Tive que passar por uma concentração enorme de quero-queros, que foi o pior de tudo, porque teve que ser pelo meio do mar num ponto que tinha ondas altas e mesmo assim eles davam rasantes perto da minha cabeça. Achei que seria bem absurdo eu morrer afogada E atacada por quero-queros numa praia deserta no meio do Paraná. De todo modo, cheguei na minha barraca, e fiquei pensando que, por mais saudades que eu sentisse, não deveria ser possível que houvesse um outro jeito de viver que não aquele.
E agora eu tô aqui, quase 800 quilômetros longe de lá e sempre me perguntando:
what the hell am I doing here?

Um comentário:

  1. The 3.3.0 edition,Dvine Involvement can also remove the effect that heroic carry be tired out and bloodthirsty taken to one's heart's material .at one time,Cooldown decreased to 10 moments from 20 minutes;
    RS Gold

    ResponderExcluir