terça-feira, 25 de novembro de 2014

Sobre "parece que faz anos, mas foi em janeiro"

Eu tava atirada numa rede olhando o céu, no pátio de alguém que eu mal sei quem é, ouvindo Armandinho e achando super engraçado o fato de as pessoas acharem muito legal eu ser da mesma cidade que ele, porque lá ele era rei. Naquela época eu morava, majoritariamente, na minha barraca. Naquele dia específico eu morava nos fundos da casa de um casal evangélico que me deu abrigo, dormia perto dos cavalos e dos cachorros, tinha um chuveiro frio, um tanque e uma tela pra me proteger das mutucas. Mas lá na rede eu tava querendo chorar. Às vezes me perguntava o que exatamente eu tava fazendo ali, tão longe do que eu costumava chamar de casa e de quem eu amava. Era a casa de um pescador, eu acompanhava mais dois pescadores e uma prostituta. Uma ilha desconhecida no meio do Paraná, duas horas de barco de Paranaguá, um número baixíssimo de turistas. Teve peixe recém pescado, teve camarão recém colhido. Já fazia três meses que eu não via nenhum dos meus amigos, que eu tava sozinha num lugar desconhecido com gente desconhecida. Eu não tinha medo, em momento algum, só tinha saudades. Aquela música me lembrava de “casa” e me doía quando me perguntavam sobre a cidade que eu nasci e sobre o que eu fazia ali, ainda não sabia direito. Escureceu e eu tive que achar o caminho de volta pra minha barraca sozinha, sem lanterna. Não havia luz nas trilhas, a única coisa que me iluminava era a lua e as estrelas. Me perdi e comecei a ficar nervosa, achei que ia ter que dormir na praia até amanhecer, não ia conseguir achar minha barraca e nem os meus amigos pescadores. No fim, achei a trilha, me tranquilizei, entrei no pátio, passei pelo cachorro que me odiava e fazia um escândalo toda vez que eu chegava ou saía, cumprimentei o cavalo que me fazia companhia. E foi aí que eu olhei pra cima de verdade e vi a coisa mais magnífica. Eu juro que não sabia da quantidade de estrelas que a gente pode enxergar. E naquele pátio totalmente escuro, sem luzes da rua, sem luzes das casas, no meio da noite...eu mal tenho palavras pra descrever o que eu vi. Estendi um pano na grama e deitei. Já não sei dizer se a lua era crescente, minguante, cheia, o que eu sei dizer é que as estrelas cobriam a maior parte do céu escuro, e elas brilhavam de maneiras diferentes, maiores, menores. Formava um brilho em volta de cada uma e depois de longos minutos tinha a impressão de estar flutuando no meio da via láctea. Fiquei, talvez, uma hora olhando aquilo e pensando na minha insignificância, nos últimos meses, nas pessoas que eu conheci e nos quilômetros que me distanciavam da vida que eu costumava ter. Mas bem ali eu percebi que tinha encontrado o que eu tava procurando, que tudo que eu precisava era aquele céu inacreditável pra fazer valer a pena ter deixado tudo e todos. Que eu era tão significante quanto aquele cavalo ou quanto a grama que eu deitava em cima, os pescadores que me providenciaram casa e comida em troca de companhia pra conversar, a prostituta que fugia do marido e sentia saudades da filha, a gente mal importa pra imensidão que é o universo. Ao aceitar isso, dormi duas horas, arrumei minha barraca, peguei o barco enquanto o sol nascia e fui de volta pro sul.

sábado, 22 de novembro de 2014

Sobre ciclo sem fim


"Eu corria desesperadamente até a porta toda vez que ouvia o sinal. Chegava antes que todos no corredor e tentava parecer casual. Fingia ser coincidência eu estar ali pra dizer que gosto da tua camiseta e que não aguento mais ficar na aula. Decorei os teus horários e sabia quando olhar pra escada a tempo de ver teu sorriso descendo. Adorava quando tu passava na frente da minha sala de surpresa querendo matar aula. Sabia exatamente onde te encontrar quando eu fugia da aula, sabia em qual sala tu estaria ou qual lugar escondido tu tinha escolhido pra sentar sozinha e ouvir música ou ler. E isso se repetia todos os dias, que eu acordava apenas pra receber um sorriso e um "bom dia" distante. E foi isso que me matou aos poucos, o preço que eu paguei pra transformar esse sorriso e "bom dia" em um beijo e "te amo" foi o jeito de sorrir que eu tinha.
Morri de leve, pouco a pouco, sem notar, sem nunca voltar."

Sobre esse texto de 2007 que estranhamente se encaixa de leve em 2014. Sobre eu ser dramática desde sempre.

Que exagero. 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Sobre "tie the rope"

Muitos textos pensados e desistidos, muitos humores mudados mais que o clima de Porto Alegre. Muita chuva que traz tristeza, que é bonita, muito sol pra secar. Muitos poréns e planos que deveriam ser bolados mas não foram, alguma falta de compreensão, alguma indecisão. A procura de uma música que deveria me consolar por dizer o que eu sinto, mas que eu só ouço na voz de outra pessoa ao invés de na minha própria.