terça-feira, 24 de junho de 2014

Sobre uma barraca enorme

Sozinha num camping, quase oitocentos quilômetros de "casa". Uma barraca enorme, até agora não entendi por que raios comprei uma barraca tão grande, ou não quero entender. Apesar de já ter abrigado outra pessoa e aí ter pensando que poderia ser até maior. Não gosto muito dessa intimidade quase abusiva. Mas de modo geral, pesando na mochila e sozinha, é enorme. Os insetos entram e não dá pra entender como. As roupas atiradas, um pouco de dinheiro e um pequeno saco de tabaco jogados, isso que costumo arrumar tudo antes de dormir, antes de deitar num amontoado de panos quase inúteis e pensar: "porra, masquequeeutôfazendoaqui?". Mas tô aqui porque tenho que estar.
Alguém ouve música e canta junto, mas não consigo identificar o que é, apenas gritos e risos. Talvez um MPB. Talvez os donos do camping, talvez um outro alguém. Um alguém muito animado. Qual o motivo de tanta animação em uma quinta-feira de noite? Não que eu tenha algo contra a animação dele, ou que eu própria não esteja animada, mas às vezes a solidão dá vontade de saber o que se passa na cabeça dos outros, na vida dos outros. Mas de longe. Eu prefiro deitar na rede e fumar. Vou fechando palheiros até quando já não aguento mais fumar. Mas gosto de estar fazendo algo. Fumando, bebendo, comendo.
É Elis Regina, a música.
Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente...
Tem um largo que leva esse nome no bairro onde eu costumava morar, antes de sumir. O Largo da Elis. Assim já fica fácil demais o pensamento voar pra lá. Oitocentos quilômetros. Ou seria setecentos? Não importa, ele vai mais rápido que a luz e se perde na ruas da infância, adolescência, vida. 
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais.
E aí chego muito, muito perto do que venho evitando, do que venho conseguindo evitar. Faço "ssshhh" pra mim mesma no escuro, no fundo da barraco. E rio. Rio por ter que silenciar eu mesma e deixo um fiapo de pensamento passar rápido e desaparecer logo. "No futuro..vai dar tudo certo...calma...ssshhh". 
Aquele que ouve música resolveu mudar de artista e agora ficou fácil identificar. Era possível, sim, estar ainda mais animado numa noite de quinta-feira.
Eu sou mesmo exagerado.
Que clichê. Eu converso sozinha em silêncio. "Lembra quando nós...ssshhhh!". Já não acho tão engraçado dessa vez, afastar lembranças se torna meio chato depois de um tempo. Eu tenho medo que cedo ou tarde não consiga ou não queira mais silenciar, por mais que saiba que vai ser tão pior depois.
Será que vale a pena vestir a roupa e fechar mais um cigarro? E essa barraca enorme? Será que quando comprei eu realmente achei que não ia precisar afastar lembranças, mas sim compartilhar em voz alta "lembra quando nós..."? Ssssssshhhhhhhhhh.
Mais um cigarro, só pra dormir melhor.
Quando a gente conversa, contando casos, besteiras...

09/01/13

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sobre "take the time"

E isso vai durar enquanto o momento permanecer certo, o que pode vir a ser minutos e pode vir a ser anos. Mesmo que eu não acredite que as duas pessoas certas vão se deixar, mesmo o momento sendo errado.
11/08/11